terça-feira, 21 de março de 2017

SAIBA AQUI O QUE É ÓSCULO SANTO E O SEU SIGNIFICADO - DEVEMOS USÁ-LO NA IGREJA HOJE?

Ósculo santo era um tipo de saudação comum na Igreja Primitiva, onde os cristãos cumprimentavam uns aos outros com beijo no rosto. Algumas pessoas ficam em dúvida se devem ou não adotar essa prática, então, a seguir, entenderemos melhor o que é o ósculo santo na Bíblia e qual o seu significado.

O significado do ósculo santo

Antes de tudo, precisamos compreender que ósculo significa “beijo”. A palavra ósculo, ou simplesmente beijo, geralmente traduz no Antigo Testamento o hebraico nashaq que no sentido de cumprimento significa “beijar” ou “tocar gentilmente”.

No Oriente era comum que nas saudações ou despedidas as pessoas fizessem uso do duplo ósculo, onde cada lado da face era beijado rapidamente. Esse costume era adotado especialmente pelos judeus, e ainda hoje é utilizado pelos homens em várias partes do mundo, sobre tudo, nos países orientais.

No Antigo Testamento existem várias passagens que fazem referência ao ósculo, como por exemplo, na chegada de Jacó a casa de Labão (Gn 29:13), ou então em 1 Samuel 10:1, onde o profeta Samuel beijou Saul após ungi-lo rei de Israel. No contexto dessa passagem, o ósculo foi um sinal de reconhecimento a autoridade do rei que havia acabado de ser ungido.

Já no Novo Testamento o ósculo traduz o grego philema que também significa “beijo”. Também existem diversas passagens neotestamentárias onde o ósculo é descrito em pelo menos três aspectos diferentes: como uma expressão de afeição, como um beijo enganoso e como um costume entre os membros da comunidade cristã.

No Evangelho de Lucas 7:36-50, lemos o relato sobre a pecadora que ungiu os pés de Jesus na casa de Simão durante um jantar. Devido à forma com que o fariseu julgou aquela mulher, Jesus lhe disse: “Você não me saudou com um ósculo, mas esta mulher, desde que entrei aqui, não parou de beijar meus pés” (Lc 7:45).

Nesse caso, o ósculo está sendo usado como um claro sinal de afeição, ou seja, o fariseu poderia alegar ter afeição por Jesus, mas não demonstrou isso de uma forma expressa.

No episódio em que Jesus estava orando no Getsêmani e foi traído por Judas Iscariotes, o ósculo foi o sinal utilizado pelo discípulo para traí-lo (Mt 26:47-49; Mc 14:44,45; Lc 22:47,48). A Bíblia registra que Jesus perguntou a Judas: “É com um beijo que você trai o filho do homem?” (Lc 22:48).

Essa passagem mostra que o ósculo, mesmo sendo um sinal visível que expressa o amor, nem sempre é usado com essa finalidade, ou seja, nem sempre é sincero. Aqui, um costume comum de saudação que indicava respeito, amizade e afeto, foi utilizado de uma forma irônica e terrível.

A terceira aplicação do ósculo no Novo Testamento diz respeito ao cumprimento entre os cristãos, conforme veremos no tópico a seguir.

O ósculo santo na Igreja

O típico costume judaico de saudar as pessoas fazendo uso do beijo também foi adotado pelos cristãos, não apenas pelos que eram judeus, mas inclusive por cristãos gentios. Essa prática foi incentivada em diferentes passagens bíblicas no Novo Testamento (Rm 16:16; 1Co 16:20; 2Co 13:12; Ts 5:26; 1Pe 5:14).

É exatamente nessa aplicação onde aparece a designação “ósculo santo”, do grego philemati hagio. Ao adicionar o grego hagios, que significa “algo muito santo” e deriva de hagos, “uma coisa grande”, “sublime”, o apóstolo obviamente estava pretendendo enfatizar que o ósculo entre os cristãos não poderia ser apenas um símbolo de afeição, mas também deveria ser santo.

Ao dizer que os cristãos deveriam se saudar com ósculo santo, Paulo estava ensinando que esse simples ato envolvia três partes, isto é, não apenas as duas pessoas que se cumprimentavam, mas também Deus, pois aquele sinal de afeto simbolizava o amor de Cristo mutuamente compartilhado entre tais pessoas.

Assim, não bastava apenas ser um beijo, porque como vimos, um beijo poderia ser usado inclusive como símbolo de uma traição, mas precisava ser uma demonstração genuína do amor fraternal entre pessoas que estavam unidas em Cristo.

Também vale dizer que o ósculo santo não tinha nenhuma conatação sensual, nem mesmo causava algum tipo de escândalo ou constrangimento entre os cristãos, pois se fosse assim, essa prática não teria sido chamava de santa nas epístolas.

O apóstolo Pedro em sua primeira epístola se refere a essa prática como “ósculo de amor” (1Pe 5:14). A palavra amor nessa expressão traduz o grego agape, o que implica um amor muito mais elevado do que o afeto comum entre amigos e familiares. Assim, além de philema, que nesse contexto significa especialmente o cumprimento como sinal de afeição fraterna entre os cristãos, o apóstolo adicionou também o agape.

Entendendo o correto significado de ágape, fica claro então que o apóstolo aconselha que os verdadeiros seguidores de Cristo não se omitam em expressar seu amor até mesmo por aqueles a quem, porventura, não possuem nenhum afeto. Isso pode parecer contraditório, mas não é, pois o Espírito Santo é quem capacita os redimidos a demonstrarem um amor tão abnegado.

Atos 20:37 é uma passagem que demonstra o uso prático do ósculo santo, quando os presbíteros de Éfeso abraçaram e beijaram Paulo em sua despedida.

Devemos usar o ósculo santo na atualidade?

Justino Mártir, na metade do século 2 d.C., foi o primeiro entre os Pais da Igreja a fazer menção da prática dos cristãos em saudar uns aos outros com um ósculo.

Segundo seu relato, essa prática era uma parte costumeira do culto cristão, pois, segundo ele, as pessoas se saudavam umas as outras com o ósculo na conclusão das orações. Há indícios também de que esse cumprimento era utilizado, especialmente, antes da celebração da Ceia do Senhor.

Diante de tudo isso, levanta-se a dúvida se devemos ou não usar o ósculo santo uns para com os outros na atualidade. A resposta para essa duvida é bastante simples, bastando apenas entendermos que o que está sendo enfatizado na expressão “ósculo santo” não é o “ósculo” em si, mas o adjetivo “santo”.

Em outras palavras, os apóstolos estavam exortando sobre a prática do amor fraternal entre os cristãos, um amor muito diferente daquele experimentado nos relacionamentos mundanos.

Assim, eles estavam dizendo que a saudação entre os redimidos deve ser condizente com o amor que estes compartilham em Cristo, expressando então uma comunhão pura e genuína que reflete o amor, a paz e a harmonia que existe entre os membros do corpo de Cristo.

Como a saudação ou despedida com beijos era um costume típico daquela época e região, obviamente foi essa prática que os apóstolos se referiram. Em nossa cultura, as saudações típicas geralmente incluem um aperto de mão ou abraço, e servem para demonstrar respeito e afeto.

Logo, a prática do ósculo santo não deve ser entendida como uma ordem apostólica que deve ser observada como parte do culto cristão. O que deve ser obedecido é a exortação para que aqueles que pertencem a Igreja de Cristo naturalmente demonstrem pureza, amor e legitimidade em seus relacionamentos interpessoais.

Portanto, a utilização do ósculo santo, abraço, aperto de mão ou qualquer outra forma legitima de cumprimento e saudação, deve depender do costume de cada região ou mesmo da comunidade cristã local.

Se por ventura uma comunidade cristã adotar o costume de se cumprimentar com ósculo, que isso então não seja entendido como um tipo de sinal de superioridade e santificação.

Resumindo, o ósculo santo significava que os cristãos aceitavam uns aos outros como irmãos e irmãs, formando a família de Deus, e é isso que deve continuar sendo praticado em nossos dias. Se o cumprimento for com um beijo, abraço ou aperto de mão, que este seja sincero.

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