quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Ide e Fazei Discípulos

Portanto ide e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. (Mateus 28:19)

Este versículo é um dos mais conhecidos da Bíblia e certamente é um dos mais lembrados quando o assunto é a evangelização. Embora sua aplicação sirva corretamente a esse propósito, poucas pessoas conhecem um detalhe interessante nessa passagem.

É comum ouvir alguém dizendo que temos que fazer o “ide” que Jesus ordenou; que temos que “ir”, porque o “ide” é o esperado da Igreja, ou seja, a ênfase sempre é colocada no “ide”. O mesmo acontece com a passagem correlata em Marcos, onde geralmente é destacado o “Ide por todo o mundo” (Mc 16:15).

Confesso que nunca tinha visto problema nessa interpretação até que certa vez fui questionado por uma aluna acerca de um “excelente” trabalho evangelístico que uma determinada denominação estava realizando. O problema é que tal denominação é um centro de heresias. Ao expor a essa aluna a verdade sobre as heresias pregadas por essa denominação, ela me respondeu o seguinte: “Ah, pelo menos eles estão fazendo o ide que o Senhor ordenou”. Foi aí que eu percebi que talvez houvesse um problema com essa interpretação tão popular. Minha resposta para ela foi em forma de outra pergunta, a mesma que agora repito para você que está lendo esse texto: O que significa o “ide” para você? Talvez no final do texto você mude a sua resposta.

Quando falei que poucas pessoas conhecem um detalhe interessante nessa passagem, me refiro ao modo com que o texto é construído no original grego. Sem entrar em muitos detalhes cansativos sobre a gramática grega, podemos dizer que o verbo “ide” não está no imperativo. Na verdade o “ide” está no particípio, qualificando o imperativo da frase, ou seja, no grego a ordem dada por Jesus é o “fazei discípulos” e não o “ide”. Nessa sentença o ide apenas determina a maneira pela qual a ordem de se fazer discípulos é cumprida. Mesmo com esse detalhe, como já disse, nunca vi problema na interpretação popular que coloca o “ide” como sendo a ordem da sentença, pois afinal, para fazermos discípulos devemos “ir”.

A questão toda é que, através dos argumentos da minha interlocutora, percebi que ultimamente as pessoas estão concentradas apenas em “ir“, ou seja, enfatizam, sobretudo, o “ide” e, de fato, estão “indo“. Mas o ponto chave é: Indo para onde? Indo fazer o que?

O problema não está no entendimento do “ide“, mas sim na falta de compreensão acerca do que realmente é o “fazei discípulos“. Qualquer um pode “ir”. Uma seita pode ir, uma denominação que prega heresias pode ir, até mesmo um incrédulo pode ir. Mas o “fazer discípulos” é que não é para qualquer um. Para que não houvesse dúvida, o próprio Jesus nos esclarece que é somente pela pregação do Evangelho que podemos fazer discípulos.

Sem o Evangelho verdadeiro é possível fazer espectadores para os cultos, público para as apresentações da igreja, consumidores para o mercado “gospel”, clientes para as campanhas que estão na moda, e ativos para o relatório financeiro do mês. Só não será possível fazer discípulos como Jesus ordenou. Somente a mensagem que expõe a verdade sobre o pecado e aponta para o Cristo ressuscitado é que pode gerar discípulos verdadeiros para o reino de Deus, batizados como sinal de que foram regenerados, remidos de seus pecados e unidos com Cristo.

Apenas ir não basta. A ordem do Mestre é que façamos discípulos. Como faremos isso? Simples! Indo pelo mundo, pregando o Evangelho. Até podemos continuar encarando o “ide” como imperativo, desde que esse nosso “ir” necessariamente resulte no “ir” de pecadores a Cristo através da Palavra genuína.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

UMA VEZ SALVO, SALVO PARA SEMPRE?

A afirmação “uma vez salvo, salvo para sempre” tem sido uma das mais polêmicas entre os cristãos. Se fosse apenas polêmica, talvez até seria tolerável, porém em muitos casos vemos pessoas colocarem em segundo plano as verdades bíblicas para defenderem suas ideias com um preconceito que não deveria existir entre cristãos.

Como exemplo do que estou dizendo, já tive o desprazer de ouvir pastores “renomados” e até idolatrados por muitos, classificarem como “doutrina diabólica” e “filhos do Diabo” quem pensa de forma diferente deles nesse assunto. Mas por que tanta confusão com este assunto? Bem, a explicação para isso é longa. No final do texto podemos até falar um pouco sobre isso.

Eu mesmo já havia decidido não escrever sobre esse tema, porém recebo muitas perguntas relacionadas a ele e, pensando bem, não posso segmentar o ensino da Palavra de Deus. Não pretendo fazer uma extensa exposição teológica sobre o assunto (quem sabe uma próxima vez), tentarei ser o mais objetivo possível sem levantar bandeiras de escolas teológicas, apenas defendo o que a Bíblia diz, embora ainda assim, inevitavelmente, o texto será um pouco longo, pois é a única maneira de abordarmos a questão de forma completa.

Uma vez salvo, salvo para sempre? Posso perder a salvação?

Primeiramente precisamos ter ciência de que nem todos que se dizem, ou pareçam “salvos”, são de fato salvos em Cristo Jesus. Em última instância apenas Deus, que conhece o profundo do coração do homem, é quem realmente tem a resposta de “quem é, e quem não é”. Digo em “última instancia” não para defender pessoas nitidamente em condutas contrárias a Palavra de Deus, mas para questionar pessoas que enganam a todos com aparência de que “são, mas não são”. Estes enganam a igreja, a liderança e até aos ímpios. Falam em nome de Deus, “curam” doentes, pregam de forma emocionante, cantam muito bem, expulsam demônios, fazem “campanhas” e mais uma variedade de coisas impressionantes, porém eles só não conseguem enganar a Deus.

Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade. (Mateus 7:22,23)

Note que Jesus diz claramente “nunca voz conheci”, ou seja, em nenhum momento Jesus disse “olha, eu conhecia vocês, porém me esqueci”. Logo, sabemos então que existem os salvos verdadeiros e os que se dizem ou parecem salvos.

Sobre os salvos verdadeiros, a Bíblia é muito clara em dizer que estes não se perdem, isto é, uma vez salvo, salvo para sempre. Existem muitos versículos que reforçam isso, mas vamos usar um texto como base que explica muito bem essa condição.

As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai. (João 10:27-29)

Jesus foi muito objetivo no que disse, não deixou ao menos espaço para dúvidas ou especulações. Ele é enfático em dizer que, para que uma ovelha (salvo verdadeiro) se perca, é preciso que alguém as tome da mão do Pai. Sinceramente, não conheço ninguém que seja tão poderoso.

No versículo 5 do mesmo capítulo, Jesus também afirma algo muito interessante. Contando uma parábola, Ele disse que os salvos verdadeiros nunca serão enganados, pois conhecem a voz do seu Pastor.

Mas de modo nenhum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos. (João 10:5)

A apostasia faz um salvo perder a salvação?

Neste ponto alguns argumentam que realmente a ameaça externa não pode fazer com que alguém perca a salvação, mas a interna, ou seja, a própria vontade da pessoa, pode tira-la da mão do Pai. Agora eu pergunto: o que levaria um salvo verdadeiro a querer perder a salvação? Seria isso possível?

Mas aquele que tomar da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna. (João 4:14)

Declarou-lhes Jesus. Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim, de modo algum terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede. (João 6:35)

Se uma pessoa que é verdadeiramente salva, por vontade própria quisesse perder a salvação, então significaria que Jesus errou nos versículos acima, e quem toma da água que Ele dá, em algum momento, sentirá sede novamente. Que ótimo que não foi isso que Jesus disse, ao contrário, ele é claro ao dizer que “nunca terá sede”. Em Jeremias 32:40 podemos ver a possibilidade de que Deus coloca no coração do homem o Seu temor, para que o homem nunca se aparte dEle.

Basicamente, a questão que está sendo discutida, de uma pessoa por si só perder a salvação, seria a Apostasia, porém biblicamente a apostasia só é cometida por salvos nominais, ou seja, pessoas que nunca nasceram de novo. Um dos versículos mais utilizados para defender a visão de um verdadeiro salvo apostatar da fé é o texto de Hebreus 6:4,5. Não vou fazer uma exposição sobre o texto de Hebreus aqui, pois fugiria do nosso propósito, porém posso dizer que o maior perigo de se interpretar a Bíblia é cair no erro de isolar determinados versículos e aplica-los fora do contexto original. Para discutirmos o texto de Hebreus é preciso ler a Epístola inteira, com atenção especial ao capítulo anterior (5), conhecermos bem para quem o escritor está escrevendo, o contexto geral e o imediato que envolve a Epístola e, entendermos se os versículos 4 e 5 do capítulo 6 estão se referindo aos verdadeiros salvos hebreus. Uma dica: no próprio versículo 9 o escritor deixa bem claro que existe uma distinção de pessoas.

Obviamente o texto de Hebreus trata de um caso severo de apostasia, porém não se refere à pessoas que realmente nasceram de novo. É só nos lembramos do texto já citado de Mateus 7:22,23. De qualquer forma, o texto de Hebreus não pode ser utilizado para defender a perda da salvação por um salvo verdadeiro, porque se fosse assim, também implicaria na afirmação de que após perder a salvação seria impossível consegui-la novamente (Hb 6:4). Em outras palavras, a pessoa poderia então escolher deixar de estar em Cristo, porém após essa decisão essa pessoa não poderia escolher voltar a Cristo novamente, mesmo que tentasse.

Resumindo, Jesus deu a vida eterna aos salvos, e não uma vida que se perde amanhã ou depois. Não existe a possibilidade de alguém ter a vida eterna hoje e perde-la amanhã, pois então não seria vida eterna e sim uma vida temporária de alguns dias, meses ou anos.

Um salvo verdadeiro pode morrer afastado do Evangelho?

Algumas pessoas diante da morte de alguém que foi “crente” por muito tempo, porém acabou se afastando do evangelho, se lamentam dizendo que se tal pessoa tivesse morrido na época em que estava na igreja teria sido melhor. Primeiro devemos saber que para Deus não existe o “se”, Deus é soberano e conhece todas as coisas, ou seja, é impossível surpreende-lo.

Para nós que não sabemos nada, principalmente o futuro, então o “se” faz todo sentido. A Bíblia diz que só Deus é quem tem o poder sobre a vida e a morte. Considerar qualquer possibilidade diferente dessa é afirmar que realmente existe algo ou alguém tão poderoso quanto Deus (se não mais), a ponto de tomar a vida de alguém sem Sua permissão. Se alguém realmente morreu e se perdeu em condenação eterna, então esse alguém nunca foi um salvo genuíno, ou seja, nunca creu verdadeiramente em Jesus, e sempre esteve condenado.

Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. (João 3:18)

Em outras palavras, aquele que não crê é porque não faz parte das ovelhas de Cristo:

Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito. (João 10:26)

Mas sobre essa questão também é importante dizer que ao homem é impossível determinar quem foi condenado no momento da morte. Claro, existem casos que são mais nítidos do que outros, sendo que o próprio Jesus disse que pelo fruto se conhece a árvore (Mt 12:33), mas em suma, este juízo pertence a Deus. Digo isso com o exemplo do ladrão na cruz, pois é inegável que ele foi recebido no paraíso. Jesus também explicou esse fato na Parábola dos Trabalhadores da Vinha, onde uns são chamados logo no começo do dia, enquanto outros são chamados já ao anoitecer, e nós não temos nada haver com isso.

A Bíblia diz que é preciso crer em Jesus para ser salvo:

A Bíblia diz diretamente que para alguém ser salvo é preciso crer em Jesus (At 16:31). Em relação ao “crer em Jesus” também é preciso dizer que não é um “simples crer”. Existem muitas pessoas que se dizem “crentes” em Jesus, mas a própria Bíblia diz que até mesmo os demônios creem em Deus, tanto que até estremecem (Tg 2:19).

O “crer” em Jesus para a vida eterna é explicado em João 3:3, ou seja, é o “nascer de novo”, “ser nova criatura”. Em outras palavras, como o apóstolo Pedro disse, é ser “regenerado para uma viva esperança”, porém essa regeneração não é obra nossa. Embora somos nós que cremos (já que não é Deus que crê por nós), a fé salvadora só pode acorrer após a regeneração (Jo 6:65; Ef 2:5), e tal fé também simplesmente não “aparece” em nós como que “por acaso”. O escritor de Hebreus entendeu muito bem essa condição ao escrever sobre quem realmente é o autor e o consumador da fé (Hb 12:2).

O escritor de Hebreus escreveu sobre isso porque ele sabia perfeitamente que no homem natural não habita bem algum (Rm 7:18), não há um que entenda, não há um justo se quer, não há ninguém que busque a Deus, todos são inúteis, pecadores e destituídos da glória de Deus (Rm 3). Porém, por uma obra completamente realizada por Deus, agora os salvos verdadeiros são feitos filhos de Deus, regenerados, justificados e glorificados, e isso não vem de nada que possamos oferecer, mas é exclusivamente graça de Deus.

Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou. (Romanos 8:29,30)

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. (Efésios 2:8,9)

Na verdade este texto que estou escrevendo poderia ser substituído perfeitamente, e sem a necessidade de notas de rodapé, pelo capítulo 2 da Epístola de Paulo aos Efésios.

É possível “desnascer” de novo?

A Bíblia em nenhum momento nos mostra a possibilidade de reversão do processo de adoção como filhos de Deus. Uma vez nascido de novo, agora é nova criatura. Se um salvo verdadeiro perdesse a salvação, então significa que ele precisaria se tornar um bastardo. Deus nos adotou como filhos e não consigo encontrar na Bíblia Ele nos devolvendo ao orfanato.

O problema da possibilidade de um salvo genuíno perder a salvação é que coloca em Jesus a culpa pelo fracasso.

Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia. (João 6:37-39)

Perceba que os salvos verdadeiros são dados pelo Pai, e nenhum destes são lançados fora, porque a vontade do Pai é que todos os que Ele deu não se perca. Se fosse possível um dos que o Pai deu ao Filho se perder, então significa que o Filho não cumpriu uma vontade do Pai. Sobre isso alguém pode dizer que o Pai entregou todos os homens ao Filho, porém isso implicaria no universalismo da salvação, ou seja, que todos serão salvos e essa doutrina não é bíblica. O próprio Jesus é enfático ao dizer que não são todos:

Por eles é que eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. (João 17:9)

A certeza da salvação – Onde nossa salvação esta guardada?

A Bíblia nos convida a termos a certeza da nossa salvação, porém sabemos que o homem é mentiroso, enganador, volátil e variável. Ao homem é possível namorar, noivar, se casar, prometer amar durante toda a vida, construir uma família e, depois de trinta anos de união, resolver se divorciar dizendo que não ama. Se o homem hoje diz “te amo” e amanhã diz “nunca mais quero você”, mudando de ideia tão facilmente, como seria possível então ao homem ter a certeza da salvação, se essa salvação dependesse de sua vontade em guarda-la?

O coração do homem é enganoso (Jr 17:9), por isso nossa salvação esta guardada de forma segura em Deus:

Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. (Colossenses 3:3)

O salvo verdadeiro esta guardado e confirmado em Deus, e foi selado, recebendo o Espírito Santo como penhor para o dia da redenção:

Nele também vós, depois de terdes ouvido a palavra da verdade, o Evangelho de vossa salvação no qual tendes crido, fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido, que é o penhor da nossa herança, enquanto esperamos a completa redenção daqueles que Deus adquiriu para o louvor da sua glória. (Efésios 1:13,14)

A salvação é uma obra perfeita realizada por Deus, Ele começou essa obra em nós e não deixará inacabada, é dEle tanto o querer, quanto o efetuar.

Estou convencido de que aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus. (Filipenses 1:6)

Se uma vez salvo, salvo para sempre, então tenho permissão para pecar?

Geralmente essa é uma das primeiras conclusões precipitadas que as pessoas tiram sobre a afirmação de que uma vez salvo, salvo para sempre. Quem conclui dessa forma é porque ainda não compreendeu a verdadeira doutrina bíblica sobre o assunto.

Biblicamente, ninguém que é verdadeiramente salvo vai querer sair pecando por aí e levando uma vida desordenada, pois isso é contra a sua nova natureza.

Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade. (1 João 2:4)

Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus. (1 João 3:9)

O Apóstolo João deixa claro que os salvo em Cristo Jesus não vivem na prática do pecado, porém isso não significa que um salvo nunca irá pecar. O mesmo Apostolo também escreve sobre isso:

Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós. (1 João 1:10)

Parece contraditório, mas não é. O verdadeiro salvo ainda está sujeito ao pecado (Rm 7), mas não se conforma com essa prática, pois mesmo que existam momentos de fraquezas, o Espírito Santo, que é quem nos convence do pecado (Jo 16:8), guiará o salvo a toda verdade (Jo 16:13), produzindo arrependimento. A Bíblia diz que quando um salvo peca, ele entristece o Espírito Santo de Deus, mas em nenhum momento afirma que o salvo perde o Espírito Santo (Ef 4:30). Para quem é nova criatura, ao pecar, o amor de Deus o constrange de uma forma tão esmagadora que não lhe resta outra opção a não ser confessar seu pecado a Deus.

Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.

Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça. (1 João 1:7,9)

O que acontece se um salvo pecar?

Muitas pessoas acreditam que um salvo pode perder a salvação porque o sacrifício de Cristo na cruz perdoou apenas os nossos pecados passados, aliás, alguns até imaginam Deus falando o seguinte: “Eu perdoou até aqui, daqui para frente, agora que você conhece a verdade, a responsabilidade é sua”.

Não é isso que a Bíblia diz. Sabemos que pecamos por atos, palavras, pensamentos e por omissão. Mesmo que um salvo não peque por palavras, atos e omissão (o que já seria incrível), o que dizer então sobre os pensamentos? Acredita-se que pensamos em média cerca de 10 mil pensamentos por dia. Se apenas um pensamento for pecado, em 30 dias teremos pecado 30 vezes. Em 10 meses pelo menos 300 vezes, e assim por diante. Acredito que isso já seria o suficiente para tirar a nossa salvação. Para quem argumenta que pecar por pensamento não é tão grave, precisa ler Mateus 5:28.

É por isso que somos justificados, porque Cristo nos purifica de todos os pecados (passado, presente e futuro).

Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica; Quem os condenará? Cristo Jesus é quem morreu, ou antes quem ressurgiu dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós; (Romanos 8:33,34)

Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. (1 João 2:1)

Também é importante dizer que quando o salvo peca, mesmo justificado, ele ainda é repreendido por Deus:

Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho. (Hebreus 12:6)

Não existe a mínima possibilidade de um salvo genuíno viver desordenadamente sentindo prazer pelo pecado. Se alguém vive assim é porque nunca foi salvo. O salvo verdadeiro deve despir-se do velho homem que é segundo Adão, e revestir-se do novo homem que é segundo Cristo.

Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade. (Efésios 4:22-24)

Sabemos que o salvo verdadeiro é tentado, mas Deus o preserva lhe dando o espace:

Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele lhes providenciará um escape, para que o possam suportar. (1 Coríntios 10:13)

A Bíblia se contradiz sobre a segurança da salvação?

Existem passagens difíceis na Bíblia, porém não existem erros e contradições. Algumas pessoas apresentam uma série de versículos para tentar argumentar que um salvo verdadeiro pode perder a salvação, porém se isso fosse verdade então haveria contradições na Bíblia. Se para nós, em um texto, a Bíblia diz uma coisa e em outro texto ela parece dizer outra, acredite, o problema é a nossa interpretação.

Se João 10, e tantos outros textos bíblicos, asseguram claramente a segurança da salvação ao salvo, qualquer texto que pareça contradizer esse ensino com certeza esta sendo interpretado errado.

É verdade que na Bíblia existem várias passagens que dizem que devemos perseverar até o fim, sermos fiéis, não retrocedermos, retermos a palavra, permanecermos na verdade, vivermos em santidade, guardarmos nossa coroa e muitos outros. Esses textos não contradizem o restante das Escrituras, pelo contrário, nos exortam sobre o padrão de vida que um salvo verdadeiro deve ter, e quando olhamos à luz da Palavra de Deus quem é que consegue permanecer fiel até o fim, descobriremos que é somente aquele a quem o Pai preserva.

Paulo escrevendo a Tito no capítulo 2, explica claramente que a graça de Deus nos ensina um novo padrão de vida:

Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente, Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo; (Tito 2:12,13)

A Bíblia nos instruí a vivermos em santidade e buscando a Deus, porém as pessoas precisam entender que devemos andar em santidade não porque queremos ser salvos, mas porque somos salvos, já que a santificação, embora ocorra de forma sinérgica no homem, também é uma obra que começa em Deus.

Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade. (João 17:17)

E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. (1 Tessalonicenses 5:23)

Em outras palavras, o processo de santificação é uma evidência da salvação, e não uma espécie de “conquista” da salvação. Nossa fidelidade a Deus não é para impressiona-lo e nos credenciar a salvação, mas é o resultado da nossa gratidão por uma obra tão maravilhosa realizada em nós. Poderíamos dizer que a santificação não é o passaporte para a salvação, mas é o comprovante da salvação.

O Apóstolo Tiago faz uma reflexão muito importante quando diz que “a fé sem obras é morta”. Ele não quis dizer que são essas obras que nos farão alcançar a vida eterna, mas em paralelo com o que Paulo escreveu em Efésios 2, podemos perceber que a salvação não vem das nossas obras, porém a fé salvadora inevitavelmente produzira boas obras. Se alguém diz ter fé salvadora e não produz tais obras, logo o problema não é a falta de obras, mas a falta de uma fé verdadeira.

Quanto a nós, devemos ter a certeza de que Deus não realiza nada pela metade, ele não planejou uma obra em nós que não foi terminada. O que ele planeja ele executa.

Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade. (Filipenses 2:13)

Por que muitas pessoas acreditam que é possível um salvo perder a salvação?

Hoje, a grande maioria dos cristãos discorda da afirmação de segurança eterna da salvação. Isso acontece como consequência de discussões que tiveram início a mais de 1.000 anos, quando uma certa doutrina sobre a salvação começou a dar muita ênfase na escolha do homem. Essa doutrina era o Pelagianismo, que negava o fato de que todos os homens nascem pecadores tal como a Bíblia ensina. Essa doutrina foi adaptada no catolicismo para o que é conhecido como Semipelagianismo, que embora “rejeitado” posteriormente pela própria Igreja Católica, nunca desapareceu. Esse sistema afirma que o homem nasce em pecado, contaminado de forma parcial, porém ainda é capaz de fazer o bem em relação à salvação. Esse tipo de doutrina é ótimo, claro, para se justificar coisas como a venda de Indulgências, por exemplo. Ainda hoje, em algumas Igrejas Evangélicas, a distribuição de “amuletos” e penitências (principalmente financeiras) também partem de heranças do Semipelagianismo.

Na reforma da Igreja esse tipo de doutrina foi rejeitada e classificada como heresia. Mais tarde surgiu uma linha doutrinaria que hoje é predominante na Igreja Evangélica, chamada de Arminianismo, com seu maior expoente o teólogo holandês Jacob Arminius.

O que aconteceu é que, liderado por alguns seguidores de Arminius após sua morte, o sistema Arminiano Clássico (que é muito diferente do modelo Pelagiano e Semipelagiano), sofreu diversas modificações, originando várias ramificações que diferem do modelo original de Jacob Arminius, sendo que em algumas vertentes, o Arminianismo se aproximou muito do modelo Semipelagiano.

Sobre a questão da “perda da salvação” por um salvo, justiça seja feita, Jacob Arminius nunca defendeu essa ideia, e nesse ponto ele nunca se posicionou de forma definitiva. Sobre isso Arminius escreveu: “Eu não deveria precipitadamente ousar dizer que a fé verdadeira e salvadora pode finalmente e totalmente esmorecer”.

Líderes posteriores como alguns Remonstrantes e John Wesley, por exemplo, é que assumiram a posição oficial da perda da salvação, justificando que nenhum fator externo pode fazer com que um salvo perca a salvação, desde que ele permaneça em Cristo, isto é, o salvo só perde a salvação por ele mesmo, decidindo apostatar da fé. Como já vimos, o problema sobre esse ponto de vista é que a Bíblia ensina explicitamente que o apóstada nunca foi um verdadeiro salvo, ou seja, o apóstada é um salvo nominal.

O Arminianismo dos Remonstrantes e, principalmente de Wesley, foi muito difundido entre os cristãos com o Metodismo e, mais tarde, de raízes metodistas (Holiness), surgiria o Movimento Pentecostal, que representa o maior grupo evangélico do mundo. Daí o fato da grande maioria dos cristãos reprovarem a afirmação de uma vez salvo, salvo para sempre. Também é verdade que nem todos os pentecostais seguem a doutrina Arminiana, e que nem todos os arminianos rejeitam a perseverança dos salvos, principalmente os clássicos. Existem muitas igrejas (principalmente Batistas) que adotam a soteriologia arminiana oficialmente, porém defendem a perseverança dos salvos.

Não há dúvida que muitos homens de Deus que foram grandes pregadores da Palavra e exímios missionários, como por exemplo, John Wesley e C. H. Spurgeon, defenderam posições diferentes sobre o tema, porém nenhum deles foi um herege por causa disso. O problema está no radicalismo, tanto de um lado quanto do outro, geralmente motivado pela tão famosa discussão entre Calvinismo e Arminianismo que não pretendo falar aqui.

O ensino maligno que precisa ser combatido é o que diz que “não importa como a pessoa viva, uma vez salvo, salvo para sempre”. O que a Bíblia ensina é que “uma vez salvo, salvo para sempre”, porque o verdadeiro salvo não vive na prática do pecado, antes, agora como nova criatura, ele é guiado pelo Espírito de Deus (Rm 8). Para estes, e somente para estes, não há nenhuma condenação, pois estão em Cristo Jesus.

Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor. (Romanos 8:37-39)

domingo, 7 de janeiro de 2018

O QUE É O CHIP 666? A BÍBLIA FALA SOBRE O CHIP DA BESTA?

A Bíblia não fala nada sobre um chip da Besta popularmente conhecido como “chip 666”. É verdade que o livro do Apocalipse menciona uma certa marca da Besta, associada ao número de seu nome, 666. Mas em nenhum momento é dito que essa marca será um chip (Apocalipse 13:16-18).

Curiosamente, os propagandistas das teorias sobre o chip 666 alegam se basear em uma série de informações secretas que eles obtiveram. Sim, supostamente eles tiveram acesso a várias informações sigilosas da ONU, da NASA, da União Europeia e de empresas multinacionais.

Segundo eles, essas informações tratam acerca do chip da Besta e de uma nova ordem mundial. São milhares de pessoas que nem mesmo trabalham com espionagem ou coisas desse tipo, mas que conseguiram acesso privilegiado a documentos secretos. Incrível, não?

Além do chip 666

Não é de hoje que as pessoas tentam atribuir significados à marca da Besta e ao número 666. Nas últimas décadas várias coisas foram identificadas como “suspeitas” de serem a marca da besta. Antes do famoso chip 666, outras coisas já apavoravam as pessoas.

Já foi afirmado, por exemplo, que a marca da besta seria o código de barras. Esse tipo de interpretação ocorreu logo que essa tecnologia surgiu para a identificação de produtos. Para muitos cristãos da época, um código com barras numéricas que poderia ser lido por uma máquina só poderia ser coisa do Anticristo.

Também já foi proposto que tal marca se tratava do “www”, quando a internet começou a se popularizar. O “www” é uma tripla repetição de uma única letra, e de acordo com algumas contas bem estranhas e sem sentido, “www” poderia somar 666.

Mesmo antes do chip da besta, do código de barras e do “www”, outras coisas eram sugeridas. Há muito tempo, nos Estados Unidos, já foi sugerido que a marca da besta era as faces da moeda americana de 10 centavos de dólar. O símbolo da maçonaria também já foi apontado como provável candidato. Outra interpretação que perdura até os dias de hoje, diz que receber a marca da besta é guardar o domingo, ao invés do sábado.

Agora a onda da vez é o tal famoso chip 666. Esse chip da besta, segundo os defensores dessa teoria, se trata de um microchip que será implantado sob a pele da mão direita ou da testa. Aqui no Brasil, por exemplo, muitos boatos já surgiram alegando que certos políticos estavam trabalhando para implantar o chip 666 em todos os cidadãos brasileiros. Muitos cristãos estão convictos disto, até que surja uma nova tecnologia que torne essa aposta do momento obsoleta.

O chip da Besta e o rastreamento tecnológico

As pessoas ficam alarmadas com a possibilidade de vir por aí um chip da Besta capaz de rastrear todo mundo. Porém, num certo sentido, praticamente todas as pessoas já estão sendo rastreadas.

Praticamente todo mundo possui um número de identificação (CPF). Quase todas as pessoas possuem dados bancários. A maioria também tem contas de e-mail, redes sociais, smartphone com GPS e uma série de aplicativos que exigem um perfil social.

Tempos atrás até estourou um escândalo em que o governo dos Estados Unidos foi denunciado por violar a privacidade de seus cidadãos. Isso indica que já existe um controle de pessoas muito bem estabelecido, em que tanto cristãos quanto incrédulos, são de certa forma rastreados.

O chip 666 e o Apocalipse

Antes de alguém dar como certa a existência de um suposto chip da Besta, é preciso analisar o contexto do livro do Apocalipse. Os destinatários primários deste livro foram os cristãos do primeiro século que viviam na Ásia Menor.

O Império Romano governava e controlava toda aquela área, e o Cristianismo estava sendo duramente combatido. Os cristãos estavam sendo perseguidos, presos e até mortos. Quem não se dobrasse ao paganismo romano e prestasse culto ao imperador, era excluído da vida sócio-econômica de Roma. Eles passavam por necessidades, pois em muitos casos não podiam trabalhar e estabelecer transações comerciais. Os crentes de Esmirna, por exemplo, viviam em terrível pobreza (cf. Apocalipse 2:9).

Realmente existe muita discussão sobre o que seria a marca da Besta no Apocalipse. Porém, seja qual for a interpretação adotada sobre essa marca, ela precisa se harmonizar com o contexto histórico do livro. Qual seria a utilidade para aqueles cristãos do século 1 d.C. saber sobre um suposto chip 666 lançado no século 21?

O Anticristo poderá utilizar algum tipo de chip?

A Bíblia fala que o Anticristo será o maior opositor de Cristo e de seu povo. Na verdade, já em nossos dias existe um sistema anticristo, que se opõem a Cristo e sua palavra. Governos, organizações, personalidades e líderes religiosos já trabalham segundo o espírito do Anticristo.

Porém, a Bíblia indica que haverá uma pessoa que regerá todo esse sistema. Sob sua liderança, a oposição à Palavra de Deus se intensificará.

Possivelmente essa pessoa usará tudo o que tiver a seu alcance para afrontar a Deus e perseguir seu povo. Se for o caso, ele poderá usar não apenas um tipo de chip, mas qualquer outra coisa que lhe dê recursos para executar essa tarefa. Porém, isso não significa que esse chip será a marca da Besta.

O medo do chip 666 da Besta

Muitas pessoas realmente ficam apavoradas com essas teorias sobre o suposto chip 666. Geralmente elas têm muito medo de perderem a salvação por causa desse chip da Besta. Mas pensar assim é o mesmo que enxergar Deus como um tipo de leitor de código de barras ou de chips RFID.

Além disso, com uso da força, uma pessoa poderia ter o chip da Besta implantado mesmo contra sua vontade. Isso então seria muito vantajoso para Satanás. Bastaria o uso de um simples chip para fazer com que as pessoas fossem privadas da salvação eterna. Mas felizmente a porta da salvação não é liberada ou bloqueada pela presença ou ausência de um chip.

Sei que muita gente gostaria que eu escrevesse a favor dessas estórias, e dissesse que a marca da Besta é um chip. Mas não posso escrever e defender aquilo que não está na Bíblia. Tudo o que podemos dizer é que a marca da Besta de que o Apocalipse fala, é algo muito mais profundo e grave do que um mero chip que supostamente será implantado.

Essa marca identifica quem são os adoradores da Besta, os escravos de Satanás. Certamente não é um tipo de chip que determina isto. Claro que a discussão sobre a implantação de chips em humanos é muito válida, pois o assunto é muito controverso. Mas também não se pode dizer que a Bíblia diz, o que ela não diz. O chip 666 está baseado em teorias conspiratórias, não na Bíblia. No próximo texto iremos entender um pouco mais sobre o que a Bíblia realmente fala sobre a marca da Besta.